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Microbioma Intestinal e Longevidade
Vera Ângelo Andrade
A relação entre longevidade e microbioma intestinal tem sido estudada há muitos anos.
A observação de que os produtos lácteos fermentados seriam benéficos para a saúde humana é vista nos escritos ayurvédicos indianos de cerca de 6000 a.C. Na Europa, os efeitos do iogurte búlgaro datam de pelo menos 1542, quando o rei francês Francisco I foi curado de uma diarreia crônica com este iogurte. Porém, os primeiros relatos científicos sobre os benefícios do leite fermentado na longevidade de camponeses búlgaros no início do século XX foram realizados pelo microbiologista russo Eli Metchnikoff.
A discussão foi tão relevante que uma reportagem sobre ela foi publicada na primeira página no The New York Times em 18 de janeiro de 1908. Metchnikoff, a luz dos conhecimentos à época, dizia que no intestino grosso os microrganismos desencadeiam fatores degenerativos no organismo e que os Lactobacilos neutralizaria os efeitos “putrefativos” do metabolismo gastrointestinal que contribuíram para doenças e envelhecimento.
O Envelhecimento e a Microbiota
Estima-se que a população mundial com 60 anos ou mais será de cerca de 2 bilhões de pessoas em 2050, comparativamente aos 900 milhões registrados em 2015 (OPAS/OMS, 2017), fato que por si só já demonstra a importância de se estudar o envelhecimento.
Nesse contexto, a longevidade saudável está se tornando uma importante preocupação mundial.O envelhecimento leva a alterações fisiológicas denominadas de senescência, tais como diminuição da visão, perda auditiva e alterações da memória. Evidências sugerem que o microbioma intestinal sofre mudanças ao longo da vida e está no centro de mudanças associadas à idade, incluindo alteração do sistema imunológico e a suscetibilidade a doenças.
O envelhecimento é caracterizado por uma crescente abundância de espécies subdominantes, sendo que as diferenças na composição da microbiota variaram entre os estudos. Akkermansia, que é um gênero do filo Verrucomicrobiota, foi relatada como mais abundante após o envelhecimento, enquanto Faecalibacterium, Bacteroidaceae e Lachnospiraceae foram relativamente reduzidas ao longo do tempo.2 Também foi observado o aumento de enterobactérias intestinais em idosas institucionalizadas e nos idosos com mais de 80 anos.
Destaca-se que os idosos longevos têm microbiota diferente da dos adultos jovens, com maior potencial para produção de ácidos graxos de cadeia curta e aumento de derivados de butirato. Outra questão do envelhecimento e das doenças relacionadas é que os mecanismos básicos convergem para a inflamação crônica, podendo ser estimulados por patógenos, restos celulares e alteração na microbiota endógena.
Um estudo sugeriu que em idosos com extrema longevidade, ou seja, mais de 100 anos, o microbioma intestinal poderia neutralizar a inflamação, influenciar na permeabilidade intestinal e contribuir positivamente para evitar o declínio da saúde óssea e cognitiva.3 Deve-se considerar também que a eubiose da microbiota intestinal é influenciada pelo tipo de parto, dieta e estilo de vida e a disbiose está associada à patogênese de doenças inflamatórias e infecções.
Manipulação da Microbiota
A manipulação da microbiota intestinal se apresenta como estratégia plausível para influenciar o desenvolvimento de comorbidades do envelhecimento, e a suplementação com probióticos aumenta a capacidade fagocitária de polimorfonucleares e a atividade de células NK, indicando aumento da função imune celular em idosos.
Os probióticos podem ainda reduzir marcadores inflamatórios e evitando excesso de reabsorção óssea.4 A metabolômica, que é o estudo científico que visa a identificar e quantificar o conjunto de metabólitos (metaboloma) produzidos e/ou modificados por um organismo, pode ser usada para identificar e quantificar metabólitos envolvidos na senescência. Há fortes razões para se acreditar que a microbiota intestinal pode ser um importante contribuinte para o envelhecimento cognitivo e a reposição e modificação do microbioma por meio da suplementação de probióticos protegeria contra o comprometimento cognitivo.
Nesse cenário, o Lactobacillus rhamnosus GG é uma cepa particularmente promissora.5 Os idosos tratados com probióticos apresentaram uma melhora significativa no escore do exame mini mental e na Doença de Alzheimer. Nesta, os efeitos da suplementação com probióticos (L. acidophilus, L. casei, L. fermentum, B. bifidum) por 12 semanas mostraram melhora na função cognitiva e no estado metabólico.4 Recente estudo na China selecionou duas potenciais cepas probióticas, Lactobacillus fermentum e Bacteroides fragilis, que foram isoladas em uma população longeva e, em seguida, combinadas e usadas como uma intervenção em camundongos que envelheceram naturalmente.
Os resultados mostraram uma mudança na microbiota intestinal em direção a um estado de longevidade saudável, após a suplementação. Além disso, os autores concluíram que a combinação de probióticos melhorou efetivamente a ansiedade e a necrose das células neuronais do hipocampo em camundongos senescentes, melhorando sua capacidade antioxidante e reduzindo seus níveis de inflamação.
Conclusão
A prescrição de probióticos surge como alternativa eficaz para atuar na microbiota e permitir um envelhecimento saudável. Entretanto, mais estudos são necessários para estabelecer quais cepas e como usá-las como terapia moduladoras neste processo.
Este conteúdo foi produzido pela PEBMED, em parceria com Cellera Farma e Vera Lucia Angelo Andrade de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.
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Vera Ângelo Andrade
Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG,Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.