Doença Celíaca e a Dieta Sem Gluten

As manifestações clínicas são diversas, podendo contar com manifestações intestinais e extraintestinais. Nas manifestações clássicas ocorrem distensão abdominal, diarreia crônicas, retardo do crescimento e desnutrição (associadas a má absorção resultante da atrofia das vilosidades intestinais), além disso, podem ocorrer as manifestações extraintestinais como fadiga crônica, disturbios neurológicos, dor nas articulações, entre outros. Essa enteropatia, quando não tratada, acomete as vilosidades intestinais, atrapalhando também a absorção de outros nutrientes, motivo esse, que estudos têm demonstrado um menor IMC e maior baixo peso, ao se comparar a população celíaca a população saudável. 

Atualmente o único tratamento disponível e eficaz é a  adesão de uma dieta isenta de glúten pelo resto da vida, que na maioria dos pacientes, auxilia na melhora dos sintomas, melhora o estado nutricional, a densidade mineral óssea, contribui para regeneração das vilosidades intestinais e a redução da resposta inflamatória. No entanto, de acordo com a literatura, pacientes que aderem a uma dieta isenta de glúten, podem continuar apresentando deficiências nutricionais, não mais relacionados a absorção intestinal, mas devido uma dieta inadequada e desequilibrada em relação a macro e micronutrientes. Dando atenção apenas a exclusão do glúten, pode ocorrer um desleixo em relação a qualidade da dieta como um todo. Por exemplo, é comum que os paciente que seguem uma dieta isenta de glúten, possuam um alto consumo de gorduras e baixo consumo de fibras. 

Não podemos esquecer também da exposição acidental ao glúten, pois ele pode ser encontrado em alguns produtos como vitaminas e suplementos ou em medicações. Além disso, pela contaminação cruzada de produtos alimentícios, no preparo pela indústria. Por esse motivo, é importante a leitura dos rótulos dos produtos, que de acordo com lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003, obriga que os produtos alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten, como medida preventiva e de controle da doença celíaca, ademais, a leitura da lista de ingredientes e estar atento ao consumo e compra de produtos vendidos a granel.  

Para além do estado nutricional, é importante que o paciente tenha um acompanhamento multiprofissional, pois a manutenção de uma dieta isenta de glúten por toda a vida pode levar a problemas psicológicos, devido ao medo da exposição ao glúten, depressão, bem como ao “isolamento social” que essas limitações podem causar e, consequentemente, afetar a qualidade de vida. Ademais, entre os adolescentes, pode ocorrer  vergonha de seguir as recomendações, por comer algo diferente dos colegas, atrapalhando a interação entre eles, bem como ocorrer  transgressão intencional da dieta, por parte da pressão dos colegas. 

Por esses e outros motivos, o acompanhamento de um nutricionista capacitado, é primordial para uma educação nutricional personalizada em relação a possíveis pontos de contaminação acidental e para a manutenção de uma dieta isenta de glúten, devidamente equilibrada nutricionalmente, especialmente na idade pediátrica, devido a consequências que a exposição ao glúten podem causar e que são irreversíveis se não tratadas adequadamente.