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É possível atuar na microbiota de pacientes com dermatite atópica?

A prevalência da dermatite atópica tem aumentado muito nas últimas décadas, em especial nos países industrializados.

A pele, maior órgão do corpo humano, atua como uma barreira epitelial contra agentes externos, incluindo bactérias, fungos, vírus, entre outros. O papel da microbiota da pele na etiopatogenese da dermatite atópica tem recebido atenção crescente dos pesquisadores.

e possivel atuar na microbiota de pacientes com dermatite atopica

O que é dermatite atópica?

A dermatite atópica ou eczema atópico é um processo patológico, inflamatório crônico da pele, caracterizado por lesões eczematosas recorrentes e intenso prurido. Epidemiologicamente é mais frequente na infância, podendo ser detectada mesmo em lactentes e sendo ainda um grande desafio diagnóstico na pediatria. Clinicamente, pode estar correlacionada com asma, bronquite, rinite e outras atopias.

Quais condições têm papel na sua patogênese?

A etiopatogênese da doença é complexa e destacando-se alguns fatores: predisposição genética, disfunção da barreira epidérmica, desregulação imunológica com predomínio de inflamação T helper do tipo 2 (Th2), além de fatores como: exposição alergênica, tabagismo, clima, e a disbiose cutânea.

A relação eixo intestino-cérebro já está descrita na literatura. É importante ressaltar que a microbiota da pele pode estimular respostas imunes do hospedeiro a patógenos invasores. Estudos relatam que fatores como: presença do H. pylori e o uso de prévio de antibióticos, também estariam associados a esta dermatite. A disbiose da microbiota da pele na dermatite atópica inclui baixa diversidade, hipercolonização de Staphylococcus aureus (S. aureus), e baixa colonização de outras bactérias comensais.

A colonização pelo S. aureus aumenta com a gravidade da doença. É relevante destacar que, além do S. aureus, a abundância relativa de outras espécies de Staphylococcus, como o S. haemolyticus, também foi detectada. Além disso, os casos de dermatite atópica mostraram redução relativa de alguns gêneros, incluindo Streptococcus, Propionibacterium e Acinetobacter. 

Como relatado, na dermatite atópica há disbiose pele, portanto é fundamental o conhecimento da composição bacteriana normal em lactentes (com um a três meses de vida) e adultos; que está apresentada a seguir.

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Critérios diagnósticos da dermatite atópica?

Os critérios mais utilizados para o diagnóstico na prática clínica são os de Hanifin & Rajka que têm sensibilidade e a especificidade elevadas. Os critérios maiores para dermatite atópica são:

  • Prurido
  • Erupção na face e/ou superfície extensora em crianças menores/ lactentes
  • Liquenificação nas áreas flexurais em crianças maiores
  • Tendência a cronicidade ou recorrência
  • História pessoal ou familiar de manifestações de atópicas.

 

Quais sãos as opções terapêuticas na dermatite atópica?

A abordagem terapêutica dependerá da idade do paciente e da gravidade e reincidência de sintomas. As intervenções para o tratamento para dermatite atópica incluem:

  • Terapia tópica com o uso de corticosteroides tópicos, inibidores tópicos da calcineurina, antibióticos, emolientes, entre outros;
  • Fototerapia como ultravioleta B de banda estreita e ultravioleta A1 de dose média;
  • Em casos mais intensos pode-se usar tratamento sistêmico que inclui imunossupressores e imunomoduladores biológicos;
  • Aconselhamento clínico/psicológico; e/ou
  • Probióticos.

Como atuar terapeuticamente na microbiota cutânea?

Estudos mostram que a diversidade microbiana da pele aumenta e a concentração de S. aureus diminui após o tratamento com os imunomoduladores biológicos sistêmicos e mesmo corticosteroides tópicos. Após o tratamento, a microbiota fica mais próxima da de indivíduos saudáveis.

O uso tópico de probióticos tem sido testado, no entanto, os resultados são controversos em termos de aplicabilidade clínica prática. Além disso, até onde sabemos, não há revisão sistemática para avaliar o efeito deste tratamento na microbiota da pele de pacientes com dermatite atópica.

Interessante opção terapêutica que vem se mostrando muito eficiente é o uso de probióticos orais. YJ Wu, et al, em estudo randomizado controlado em crianças de 4 a 48 meses com dermatite atópica diagnosticadas pelos critérios de Hanifin e Rajka mostrou que LGG® foi eficaz na diminuição dos sintomas após um tratamento de 8 semanas, comparando com um placebo (p < 0,05). Carucci L et al. avaliaram 100 crianças com dermatite atópica com idades entre 6 e 36 meses em um estudo randomizado, duplo-cego e controlado que receberam placebo ou LGG (1 x 1.010 UFC/dia) por 12 semanas.  Os autores concluíram que o probiótico LGG foi útil como terapia adjuvante na dermatite atópica pediátrica.

Concluímos que é possível atuar terapeuticamente com uso de probióticos e a cepa LGG® é mais bem estudadas e tem se mostrado útil no controle da dermatite atópica, mas a prescrição deve ser individualizada e prescrita por profissional especializado.

Referências bibliográficas:

Abreu DB, Silva D, Moreia A, Lopes C. Microbioma cutâneo e dermatite atópica. Rev Port Imunoalergologia. 2022;30(3): 169-189. DOI: 10.32932/rpia.2022.09.086
Wu YJ, Wu WF, Hung CW, Ku MS, Liao PF, et al. Evaluation of efficacy and safety of Lactobacillus rhamnosus in children aged 4-48 months with atopic dermatitis: An 8-week, double-blind, randomized, placebo-controlled study. J Microbiol Immunol Infect. 2017 Oct;50(5):684-692. DOI: 10.1016/j.jmii.2015.10.003.
Carucci L, Nocerino R, Paparo L, De Filippis F et al. Therapeutic effects elicited by the probiotic Lacticaseibacillus rhamnosus GG in children with atopic dermatitis. The results of the ProPAD trial. Pediatr Allergy Immunol. 2022 Aug;33(8):e13836. DOI: 10.1111/pai.13836.

Este texto foi produzido em conjunto com André Dos Santos Boldrini (acadêmico de Medicina no Campus Universitário FAMINAS- Muriaé-MG) e a Dra. Vera Ângelo para o  Portal PEBMED.

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Dra. Vera Ângelo

Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG,Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.

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