fbpx

Reação adversa aos salicilatos alimentares

equipe nuvem medicina 10

Vera Ângelo Andrade

Salicilatos (C6H4(OH)COO-R) são compostos orgânicos bioativos e ácidos fracos que atravessam as membranas celulares com facilidade.

Reações adversas aos alimentos são definidas como reação anormal após a ingestão alimentar. As reações adversas alimentares incluem alergia imunomediada e intolerância não imunomediada.  Porém, esses dois mecanismos patogenéticos são frequentemente confundidos.

De acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos, alergia alimentar é “um efeito adverso à saúde decorrente de uma resposta imune específica que ocorre de forma reprodutível na exposição a um determinado alimento” e intolerância alimentar como “reações não imunes que incluem mecanismos metabólicos, tóxicos, farmacológicos e indefinidos”. 

Infelizmente, o termo “intolerância” tem sido frequentemente utilizado de forma abusiva para definir uma ampla gama de distúrbios relacionados com a ingestão de diferentes alimentos. Essa questão é tão preocupante que propuseram um teste de “sensibilidade alimentar” em que haveria a produção de imunoglobulinas  IgG  e um teste de pesquisa de  IgG  específico para vários alimentos que ajudaria no diagnóstico. Entretanto, não há qualquer estudo científico que comprove relação entre os níveis de IgG e as manifestações clínicas, e ainda nenhuma exclusão ou modificação dietética pode ser realizada em um teste positivo.

Dessa maneira, exames como o teste de IgG 221 alimentos devem ser proscritos. As reações adversas não imunológicas aos alimentos podem ser classificadas entre independentes do hospedeiro e dependentes do hospedeiro devido aos seus mecanismos fisiopatológicos.

Captura de tela 2023 09 06 145528 300x185 1

Figura 1. Reações adversas não imunológicas aos alimentos.

nuvem

Salicilatos 

Salicilatos (C6H4(OH)COO-R) são compostos orgânicos bioativos e ácidos fracos que atravessam as membranas celulares com facilidade.  O derivado mais popular do ácido salicílico é o ácido acetilsalicílico, frequentemente utilizado como analgésico, antipirético, anti-inflamatório e até como anticoagulante. Os salicilatos também podem ser encontrados em alimentos, porém em menor quantidade. A ingestão alimentar de salicilatos é geralmente de 10–200 mg por dia, por outro lado uma única  dose de aspirina pode conter 325–650 mg de salicilatos. Os salicilatos, incluindo o ácido acetilsalicílico, ocorrem naturalmente nos alimentos. 

A tabela a seguir apresenta uma lista de alimentos ricos desse bioativo:

Ativo 2tabela scaled

Intolerância alimentar aos salicilatos 

A intolerância ao salicilato é um problema subestimado em nosso meio, uma vez que pacientes e até profissionais de saúde desconhecem a relação entre a ingestão de alimentos ricos em salicilatos e sintomas clínicos. Diferentemente dos efeitos da exposição ao ácido acetilsalicílico em asmáticos, que são frequentemente aventadas pelos médicos, essa intolerância está relacionada à geração e metabolismo alterados de ácido araquidônico e eicosanoides, e à ingestão de prostaglandinas e leucotrienos, salicilatos ou inibidores de COX. 

Outra questão que deve ser considerada é o metabolismo do ácido acetilsalicílico, que é realizado pela UDP-glucuronosiltransferase 1A6, citocromo P4502C9 e N-acetil transferase 2. Normalmente, os salicilatos são metabolizados no fígado, entretanto se há alteração na função hepática, o risco de intolerância ao salicilato resta aumentado.

Diagnóstico  

O diagnóstico clínico nem sempre é fácil de ser realizado, pois os sintomas podem ocorrer em várias condições patológicas e muitas vezes a anamnese não inclui a pesquisa da ingestão de alimentos ricos em salicilatos. Os sintomas mais comuns envolvem o trato respiratório. No entanto, outros sistemas também podem ser afetados. Os sintomas podem ser do trato respiratório (asma, rinite, sinusite), dermatológicos (urticária), do sistema nervoso (enxaqueca, tonteira, depressão e ansiedade e insônia)  e do trato gastrintestinal (diarreia, flatulência, dor abdominal, colite).

Diagnóstico laboratorial 

Embora a intolerância ao salicilato em medicamentos como a aspirina esteja bem estabelecida, faltam pesquisas que explorem a intolerância a alimentos ricos em salicilato.  

Atualmente, não existem exames laboratoriais para diagnosticá-la. No entanto, certos testes podem ser usados para descartar alergias e outros tipos de intolerâncias. O teste padrão para intolerância ao salicilato a medicamentos é a exposição ou provocação, que envolve a administração de uma pequena quantidade de ácido salicílico e o monitoramento dos sintomas.

Tratamento 

Como não existe tratamento medicamentoso, a terapêutica baseia-se em uma dieta com baixo teor de salicilatos, o problema é que essa dieta pode ser muito restritiva. Cortar desnecessariamente alimentos ricos nesses compostos pode ser prejudicial à saúde. Não podemos esquecer que os salicilatos são anti-inflamatórios. Foi comprovado que alimentos ricos neles reduzem o risco de doenças inflamatórias, como o câncer colorretal. Como a intolerância geralmente está relacionada à dose, o ideal é restringir apenas os alimentos que contêm maiores quantidades, já citados anteriormente. 

Considerações finais 

A cada dia aumenta o número de pacientes que procuram assistência médica por queixas relacionadas a reações adversas a alimentos: alergias e intolerâncias alimentares. Infelizmente o diagnóstico diferencial com a intolerância ao salicilato normalmente nem é aventado. É fundamental que pacientes, médicos e nutricionistas conheçam essa entidade patológica para que a intolerância a salicilatos não seja  subestimada.  Após o correto diagnóstico clínico, o tratamento será dieta com restrição de alimentos ricos em salicilato e também do ácido acetilsalicílico. 

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED, em parceria com a Dra. Vera Lucia Angelo Andrade. Também assina o texto: Adelia Carmen Silva de Jesus. Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia. Vice-presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Especialista em endoscopia pela Federação Brasileira de endoscopia. Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

Compartilhe:

Vera Ângelo Andrade

Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG,Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.

plugins premium WordPress