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ROMA: Atualização sobre inchaço e distensão abdominal
Dra. Vera Ângelo
Grupo de especialistas propôs as melhores práticas em relação a definição, diagnóstico e tratamentos do inchaço e distensão abdominal.
É crescente o número de pacientes que procuram assistência médica por queixas relacionadas a inchaço e distensão abdominal. Muitos já foram submetidos a extensa propedêutica, sem achados significativos e sem melhora clínica, o que leva a grande angústia tanto para médicos quanto pacientes. Um grande estudo populacional encontrou prevalência de inchaço e distensão de até 3,5% (4,6% em mulheres e 2,4% em homens). No entanto, estes sintomas são muito mais prevalentes (> 50%) quando associados a Síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional ou constipação.
Um grupo de experts da American Gastroenterological Association (AGA) estudou este assunto e propôs as melhores práticas em relação a definição, diagnóstico e tratamentos do inchaço e distensão abdominal.
Critérios de diagnóstico de inchaço e distensão abdominal
Inchaço é a sensação subjetiva em qualquer região do abdome experimentada pelo paciente como plenitude ou “gás preso”, por outro lado distensão é o aumento visível da circunferência abdominal, muitas vezes descrita como “como um balão” ou “como estar grávida.” Essas condições têm fisiopatologias inter-relacionadas e, clinicamente são difíceis de serem distinguidas, por isso são abordadas em conjunto.2
Segundo a Fundação ROMA, que estabeleceu os atuais Critérios de Roma IV, quando esses sintomas são frequentes ou intensos prejudicando atividades no dia a dia, são incluídos como distúrbios da interação intestino-cérebro (DIIC). Os sintomas devem ocorrer, pelo menos, um dia por semana e estar presentes por três meses, com início a seis meses e sem predomínio de dor ou alteração do hábito intestinal.
Os Critérios de Roma IV têm uma categoria de inchaço e distensão abdominal que é separada de outras DIIC (p. ex., Síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional), reconhecendo que isto pode ser um distúrbio primário em alguns pacientes.
Resumo das melhores práticas da AGA para diagnóstico de inchaço e distensão abdominal primária
- Os critérios de Roma IV devem ser usados para o diagnóstico.
- Na suspeita de Intolerâncias a carboidratos, a restrição alimentar e/ou teste respiratório podem ser usados como recursos diagnósticos. Em um pequeno subconjunto de pacientes, a aspiração do intestino delgado (não usada em nosso meio) e o teste respiratório do hidrogênio com substrato glicose ou lactulose podem ser feitos para pesquisar o supercrescimento bacteriano no intestino delgado.
- Testes sorológicos são indicados na suspeita de doença celíaca ou hipersensibilidade ao glúten não celíaco; e se as sorologias forem positivas, uma biópsia do intestino delgado deve ser feita para confirmar o diagnóstico.
- Ultrassonografia/tomografia abdominal, trânsito radiopaco e/ou endoscopias devem ser solicitados apenas em pacientes com sinais de alarme, na piora recente dos sintomas ou se o exame físico mostrar alguma anormalidade.
- Estudos de esvaziamento gástrico não devem ser solicitados rotineiramente, mas podem ser considerados se houver náuseas e vômitos.
- Em pacientes com inchaço e distensão abdominal, que se acredita estarem relacionados à constipação ou dificuldade de evacuação, sugere-se teste de fisiologia e/ou mecânica anorretal (ex. manometria anorretal, defecografia ou defeco ressonância) para descartar distúrbios do assoalho pélvico.
Resumo das melhores práticas da AGA para tratamento de inchaço e distensão abdominal primária
- Quando forem necessárias modificações na dieta, as mesmas devem ser acompanhadas por um nutricionista ou nutrólogo.
- Os probióticos não devem ser usados no tratamento.
- Neuromoduladores centrais (p. ex., antidepressivos) podem ser indicados para reduzirem a hipersensibilidade visceral, aumentando o limiar de sensação, além de melhorar as comorbidades psicológicas.
- Medicamentos usados para tratar constipação devem ser considerados se houver sintomas de constipação associada.
- A terapia de biofeedback anorretal pode ser eficaz quando um distúrbio do assoalho pélvico for identificado.
- Terapias psicológicas, como hipnoterapia, ou cognitivo-comportamental podem ser indicadas em casos selecionados.
- A respiração diafragmática e os neuromoduladores são usados para tratar a dissinergia abdominofrênica.
Conclusões
Os sintomas de inchaço e distensão abdominal são muito comuns na prática clínica e, quando levam ao comprometimento das atividades diárias dos pacientes, são categorizados como DIIC. Embora a fisiopatologia ainda não seja totalmente elucidada, parece convergir no sentindo da desregulação do eixo cérebro-intestino e na aplicação do modelo biopsicossocial de tratamento que engloba orientações dietéticas, atuação na motilidade, na sensibilidade visceral e na abordagem psicossocial.
Destaca-se a importância da relação médico-paciente e do modelo de atendimento centrado no paciente, reduzindo exames e consequentemente os custos de cuidados de saúde, otimizando o tratamento.
Referências bibliográficas:
1. Sperber AD, Bangdiwala SI, Drossman DA, et al. Worldwide prevalence and burden of functional gastrointestinal disorders, results of Rome Foundation global study. Gastroenterology. 2021;160:99–114. DOI: 10.1053/j.gastro.2020.04.014
2.Drossman DA. Functional gastrointestinal disorders: history, pathophysiology, clinical features and Rome IV. Gastroenterology 2016;150:1282–1279. Moshiree B, Drossman D, Shaukat A. AGA Clinical Practice Update on Evaluation and Management of Belching, Abdominal Bloating, and Distention: Expert Review. Gastroenterology. 2023 Sep;165(3):791-800.e3. DOI: 10.1053/j.gastro.2023.04.039
3. ROME Foundation. Rome IV Criteria. Disponível em: https://theromefoundation.org/rome-iv/rome-iv-criteria/ (Acesso em: setembro 2023).
4. Chey WD, Hashash JG, Manning L, et al. AGA clinical practice update on the role of diet in irritable bowel – 2023 AGA Clinical Practice Update on Belching, Abdominal Bloating, and Distention 10.e1 syndrome: expert review. Gastroenterology 2022; 162:1737–1745.e5. DOI: 10.1053/j.gastro.2021.12.248.
Este conteúdo foi produzido pela PEBMED, em parceria com Cellera Farma e Vera Lucia Angelo Andrade de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.
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Vera Ângelo Andrade
Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG,Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.