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Síndrome látex-fruta, como diagnosticar e tratar?

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Dra. Vera Ângelo

A síndrome látex-fruta é uma entidade de relevância clínica e, embora tenha sido reportada pela primeira vez em 1991 por M’Raihi et al, ainda é pouca diagnosticada em nosso meio. É caracterizada pela alergia ao látex relacionada a produtos da borracha natural associada a alergia alimentar a algumas frutas.

A alergia ao látex de borracha natural apresenta impactos importantes na saúde, devido ao seu largo uso em equipamentos médicos, como luvas e cateteres, e sua relação com reações anafiláticas intraoperatórias. Sua prevalência é maior nos grupos mais expostos, como profissionais de saúde e pacientes submetidos a múltiplas cirurgias. Estudos demostraram que histórico de atopias, como dermatite atópica, é um importante fator de risco para o desenvolvimento de alergia ao látex. Clinicamente manifesta-se por reações de hipersensibilidade mediada por IgE de intensidade variável, sendo comuns urticária e angioedema.

Os antígenos do látex possuem semelhanças moleculares e estruturais identificadas por técnicas de imunodetecção, com proteínas presentes em frutas como banana e mamão, favorecendo a reatividade cruzada entre eles e hipersensibilidade mediada por IgE. Observou-se, também, a existência de uma lisozima no látex semelhante às lisozimas das frutas. Esses fatores, associados a outros antígenos, parecem estar envolvidos no desenvolvimento da Síndrome látex-fruta. (Figura 1).

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Figura 1. Mecanismo fisiopatológico da reatividade cruzada relacionada à síndrome látex-fruta

A sua prevalência ainda não está bem estabelecida na literatura, porém estudos estimam que a prevalência seja entre 20 a 60% dos pacientes alérgicos ao látex. Já em pacientes dos grupos de risco (espinha bífida, submetidos a múltiplas cirurgias e profissionais da saúde), ensaio realizado no Brasil demonstrou que a prevalência de síndrome látex-fruta nos pacientes alérgicos ao látex foi de 28%.

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Diagnóstico Clínico

Clinicamente os sinais e sintomas ocorrem após contato com alérgenos presentes nesses alimentos. O diagnóstico é clínico, sendo de suma importância seu reconhecimento pelo médico, por meio dos dados epidemiológicos e da história clínica detalhada e correlação temporal com sintomas.

Fatores a serem considerados na história clínica:

  • História exposição frequente ao látex: profissionais de saúde, operários da indústria do látex, intervenções cirúrgicas.
  • Condições patológicas associadas: espinha bífida e outras malformações congênitas (gastrointestinais e urológicas).
  • Sintomatologia de hipersensibilidade ou alergia ao látex
  • Antecedentes pessoais e familiares de alergias

 

Não há sintomas específicos, sendo mais comuns urticária, alergia oral e angioedema e até anafilaxia (Tabela 1).

Sistema envolvido

Sintomas (início após minutos ou 1 a 2 horas após ingestão alimentar

Tegumentar

Prurido, urticária, angioedema, exacerbação da dermatite atópica.

Gastrointestinal

Náusea, vômitos, prurido oral, angioedema nos lábios, palato ou faringe; dor abdominal.

Respiratório

Congestão nasal, coriza, tosse, dispneia, cianose, edema de laringe e rouquidão.

Cardiovascular

Taquicardia, bradicardia, hipotensão, tontura, parada cardíaca.

Nervoso

Síncope, tontura.

Na literatura, a síndrome látex-fruta já foi correlacionada com algumas frutas (Tabela 2).

Tipos de alimentos

 Exemplos

Frutas

Banana, Abacate, Figo, Kiwi, Maracujá, Mamão, Manga, Cereja, Maçã, Melão, Pêssego, Ameixa, Abacaxi, Acerola, Lichia, Uva, tomate

Legume

Espinafre

Tubérculos

Batata, mandioca

Oleaginosa

Castanhas

Diagnóstico complementar

Para confirmação diagnóstica pode-se realizar o teste de puntura com o látex e com os alimentos in natura relacionados à reatividade cruzada. Tais testes consistem na exposição cutânea aos alérgenos e na observação da resposta imunológica. A resposta é medida com cerca de 20 minutos após a sensibilização, sendo considerada positiva quando há formação de pápula com diâmetro que varia de acordo com a idade. Esses testes apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade, o que demonstra a relevância de relacioná-los ao quadro clínico. Em casos de dúvida diagnóstica, pode-se realizar o teste de provocação oral de alimentos.

Terapêutica

Não há guidelines e terapêuticas farmacológicas específicas na literatura para tratamento. Entretanto, é estabelecido que, para melhor evolução e qualidade de vida do paciente, deve-se adequar a dieta, por meio da restrição ao consumo dos alimentos que cursam com a reação alérgica. Em casos agudos e sintomáticos anti-histamínicos podem ser prescritos.

Há perspectivas futuras de que a imunoterapia com extratos fracionados para alergia ao látex possa também contribuir para a melhoria da hipersensibilidade alimentar. Entretanto, sabe-se que a não exposição ainda é o principal tratamento para pacientes alérgicos ao látex ou com síndrome látex-fruta.

Conclusão

Concluímos que o diagnóstico da síndrome látex-fruta, muitas vezes não é realizado, por ser pouco conhecido pelos profissionais de saúde. E obviamente para que o tratamento seja adequadamente realizado é necessário que um correto diagnóstico tenha sido feito.

Publicação: PEBMED

Artigo escrito em conjunto com: Dra. Vera Angelo , Jordana Almeida Mesquita¹ e Isabella Barreto de Souza Machado²

1 Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.

Diretora de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Ligas Acadêmicas do Aparelho Digestivo (SOBLAD).

2 Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.

Referências bibliográficas:

  • Blanco C, Carrillo T, Castillo R, et al.: Latex allergy: clinical features and cross-reactivity with fruits. Ann Allergy 1994, 73:309–314.
  • Nguyen K, Kohli A. Latex Allergy. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan–. PMID: 31424748.
  • Marin, F A, Peres, Almeida SPB, & Zuliani, A.. Alergia látex-fruta. Revista de Nutrição, 2002; 15(1), 95-103.
  • Wagner, S., & Breiteneder, H. The latex-fruit syndrome. Biochemical Society Transactions, 2002; 30(6), 935-940.
  • Hon E, Gupta SK. Gastrointestinal Food Allergies and Intolerances. Gastroenterol Clin North Am. 2021;50(1):41-57. doi:1016/j.gtc.2020.10.006. PMID: 33518168.

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Dra. Vera Ângelo

Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG, Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.

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