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Síndrome látex-fruta, como diagnosticar e tratar?
A síndrome látex-fruta é uma entidade de relevância clínica e, embora tenha sido reportada pela primeira vez em 1991 por M’Raihi et al, ainda é pouca diagnosticada em nosso meio. É caracterizada pela alergia ao látex relacionada a produtos da borracha natural associada a alergia alimentar a algumas frutas.
A alergia ao látex de borracha natural apresenta impactos importantes na saúde, devido ao seu largo uso em equipamentos médicos, como luvas e cateteres, e sua relação com reações anafiláticas intraoperatórias. Sua prevalência é maior nos grupos mais expostos, como profissionais de saúde e pacientes submetidos a múltiplas cirurgias. Estudos demostraram que histórico de atopias, como dermatite atópica, é um importante fator de risco para o desenvolvimento de alergia ao látex. Clinicamente manifesta-se por reações de hipersensibilidade mediada por IgE de intensidade variável, sendo comuns urticária e angioedema.
Os antígenos do látex possuem semelhanças moleculares e estruturais identificadas por técnicas de imunodetecção, com proteínas presentes em frutas como banana e mamão, favorecendo a reatividade cruzada entre eles e hipersensibilidade mediada por IgE. Observou-se, também, a existência de uma lisozima no látex semelhante às lisozimas das frutas. Esses fatores, associados a outros antígenos, parecem estar envolvidos no desenvolvimento da Síndrome látex-fruta. (Figura 1).
Diagnóstico Clínico
Clinicamente os sinais e sintomas ocorrem após contato com alérgenos presentes nesses alimentos. O diagnóstico é clínico, sendo de suma importância seu reconhecimento pelo médico, por meio dos dados epidemiológicos e da história clínica detalhada e correlação temporal com sintomas.
Fatores a serem considerados na história clínica:
- História exposição frequente ao látex: profissionais de saúde, operários da indústria do látex, intervenções cirúrgicas.
- Condições patológicas associadas: espinha bífida e outras malformações congênitas (gastrointestinais e urológicas).
- Sintomatologia de hipersensibilidade ou alergia ao látex
- Antecedentes pessoais e familiares de alergias
Não há sintomas específicos, sendo mais comuns urticária, alergia oral e angioedema e até anafilaxia (Tabela 1).
Sistema envolvido | Sintomas (início após minutos ou 1 a 2 horas após ingestão alimentar |
Tegumentar | Prurido, urticária, angioedema, exacerbação da dermatite atópica. |
Gastrointestinal | Náusea, vômitos, prurido oral, angioedema nos lábios, palato ou faringe; dor abdominal. |
Respiratório | Congestão nasal, coriza, tosse, dispneia, cianose, edema de laringe e rouquidão. |
Cardiovascular | Taquicardia, bradicardia, hipotensão, tontura, parada cardíaca. |
Nervoso | Síncope, tontura. |
Na literatura, a síndrome látex-fruta já foi correlacionada com algumas frutas (Tabela 2).
Tipos de alimentos | Exemplos |
Frutas | Banana, Abacate, Figo, Kiwi, Maracujá, Mamão, Manga, Cereja, Maçã, Melão, Pêssego, Ameixa, Abacaxi, Acerola, Lichia, Uva, tomate |
Legume | Espinafre |
Tubérculos | Batata, mandioca |
Oleaginosa | Castanhas |
Diagnóstico complementar
Para confirmação diagnóstica pode-se realizar o teste de puntura com o látex e com os alimentos in natura relacionados à reatividade cruzada. Tais testes consistem na exposição cutânea aos alérgenos e na observação da resposta imunológica. A resposta é medida com cerca de 20 minutos após a sensibilização, sendo considerada positiva quando há formação de pápula com diâmetro que varia de acordo com a idade. Esses testes apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade, o que demonstra a relevância de relacioná-los ao quadro clínico. Em casos de dúvida diagnóstica, pode-se realizar o teste de provocação oral de alimentos.
Terapêutica
Não há guidelines e terapêuticas farmacológicas específicas na literatura para tratamento. Entretanto, é estabelecido que, para melhor evolução e qualidade de vida do paciente, deve-se adequar a dieta, por meio da restrição ao consumo dos alimentos que cursam com a reação alérgica. Em casos agudos e sintomáticos anti-histamínicos podem ser prescritos.
Há perspectivas futuras de que a imunoterapia com extratos fracionados para alergia ao látex possa também contribuir para a melhoria da hipersensibilidade alimentar. Entretanto, sabe-se que a não exposição ainda é o principal tratamento para pacientes alérgicos ao látex ou com síndrome látex-fruta.
Conclusão
Concluímos que o diagnóstico da síndrome látex-fruta, muitas vezes não é realizado, por ser pouco conhecido pelos profissionais de saúde. E obviamente para que o tratamento seja adequadamente realizado é necessário que um correto diagnóstico tenha sido feito.
Referências Bibliográficas:
Publicação: PEBMED
Artigo escrito em conjunto com: Dra. Vera Angelo , Jordana Almeida Mesquita¹ e Isabella Barreto de Souza Machado²
1 Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.
Diretora de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Ligas Acadêmicas do Aparelho Digestivo (SOBLAD).
2 Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.
Referências bibliográficas:
- Blanco C, Carrillo T, Castillo R, et al.: Latex allergy: clinical features and cross-reactivity with fruits. Ann Allergy 1994, 73:309–314.
- Nguyen K, Kohli A. Latex Allergy. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan–. PMID: 31424748.
- Marin, F A, Peres, Almeida SPB, & Zuliani, A.. Alergia látex-fruta. Revista de Nutrição, 2002; 15(1), 95-103.
- Wagner, S., & Breiteneder, H. The latex-fruit syndrome. Biochemical Society Transactions, 2002; 30(6), 935-940.
- Hon E, Gupta SK. Gastrointestinal Food Allergies and Intolerances. Gastroenterol Clin North Am. 2021;50(1):41-57. doi:1016/j.gtc.2020.10.006. PMID: 33518168.
Dra. Vera Ângelo
Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG, Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.