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Probióticos podem ser úteis no tratamento e na prevenção da regurgitação infantil?
Vera Ângelo Andrade
Tempo de Leitura: 3 minutos
Regurgitação infantil é o retorno de alimento ou líquido a boca, sendo muito comum durante a infância e pode causar sofrimento não só para a criança, mas para toda a família. Estima-se que durante os primeiros seis meses de vida, aproximadamente 25% das consultas com pediatras estão relacionadas à regurgitação infantil e a busca por tratamento. A fisiopatologia da regurgitação funcional ainda é controversa e parece ser multifatorial, mas há evidências crescentes de que uma colonização anormal da microbiota intestinal possa estar presente.
Quais são os critérios de diagnóstico de Roma para regurgitação infantil?
O diagnóstico de regurgitação baseia-se nos critérios de Roma. Os critérios de Roma para distúrbios gastrointestinais funcionais foram revisados para bebês e crianças pequenas. Porém, nenhuma mudança de critério foi feita para regurgitação infantil na versão atualizada Roma IV, em comparação com Roma III. Para o diagnóstico em bebês saudáveis entre três semanas a 12 meses de vida deve-se seguir os itens a seguir:
- Regurgitação duas ou mais vezes por dia durante três ou mais semanas.
- Ausência de náusea, hematêmese, aspiração, apneia, distúrbio de crescimento, dificuldades de alimentação ou postura anormal.
Quais tratamentos são indicados na regurgitação infantil?
Na prática clínica não são necessárias intervenções medicamentosas para regurgitação pós-prandial. Tratamentos conservadores que incluem alimentos mais espessos, antiregurgitação fórmulas espessadas e posicionamento pós-prandial são sugeridas embora careçam de evidências científica sobre a eficácia ou segurança na gestão da regurgitação. As condutas devem focar principalmente na educação e apoio para os pais. A Revisão Cochrane encontrou evidência de qualidade moderada de que os espessantes alimentares para fórmulas infantis reduziram o número de regurgitações em quase dois episódios por dia.
Por outro lado, o espessamento de alimentação pode aumentar a densidade calórica; e o impacto a longo prazo de alimentação tão rica em carboidratos e baixa proteína não está claro. Vários pesquisadores sobre regurgitação argumentam que o manejo posicional de bebês com regurgitação (dormir de lado ou posição supina elevada) não pode ser recomendados devido falta de evidência em relação à eficácia e segurança desta prescrição. Como pode-se perceber ainda não há um tratamento conservador ou medicamentoso que possa ser prescrito com suficiente respaldo científico.
Os probióticos podem ser úteis como agente terapêutico da regurgitação infantil?
A microbiota intestinal tem um importante papel na etiopatogênese de vários distúrbios gastrointestinais, com um número exponencial de estudos têm como alvo a terapia probiótica. Probióticos são definidos como microrganismos vivos que conferem um benefício à saúde do hospedeiro quando administrados em quantidades adequadas. Os mais usados são: Lactobacilos rhamnosus GG, Lactobacillus reuteri DSM 17938, Lactobacillus reuteri ATCC 55730, Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus acidophilus. Considerando que a disbiose possa estar relacionada à regurgitação infantil, a prescrição de probióticos é uma interessante opção terapêutica.
A suplementação pode:
- Alterar a colonização;
- Agir sobre tight junctionda barreira epitelial;
- Inibição de patógenos da mucosa;
- Aumento da adesão de microorganismos para a mucosa intestinal;
- Produção bacteriocinas e modulação do sistema imunológico.
Os probióticos podem desempenhar um papel no controle inflamação intestinal, da distensão gástrica e do relaxamento do fundo gástrico devido ao distúrbio de motilidade gástrica que poderiam contribuir para a regurgitação.
Estudo
Foster e colaboradores publicaram agora em 2022 uma metanálise de ensaios clínicos randomizados que compararam o uso de probióticos (qualquer dose ou composição) placebo e controle durante o período pré-natal e a termo e bebês prematuros no período pós-natal (desde o nascimento até 12 meses) para a prevenção (mãe/bebê) e tratamento (bebê) de regurgitação infantil.
Segundo os autores esta seria a primeira revisão sistemática que investigou a eficácia da suplementação de probióticos no tratamento e prevenção da regurgitação infantil. Dos seis estudos incluídos na revisão, cinco usaram L. reuteri DSM 17938 ou a cepa original, L. reuteri ATCC 55730. Estas cepas foram escolhidas para estudo devido a bons resultados em estudos anteriores. A metanálise concluiu que a terapia probiótica teve evidência de benefício, mas a maioria dos estudos eram pequenos e com heterogeneidade relativamente alta.
Considerações finais
As evidências científicas atualmente disponíveis não suportam ou refutam a eficácia dos probióticos para a prevenção e tratamento da regurgitação infantil, mas os dados dos ensaios individuais e meta-análise dos estudos são promissores. Importante ressaltar que nos estudos não foram relatados efeitos adversos significativos.
Considerando a elevada prevalência de regurgitação nos primeiros seis meses de vida, o sofrimento infantil e familiar, podemos inferir que os probióticos, em especial da cepa L. Reuteri, possam ser prescritos com orientação do pediatra.
Referências bibliográficas:
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- Benninga, M. A., Faure, C., Hyman, P. E., James Roberts, I. St, Schechter, N. L., & Nurko, S. (2016). Childhood functional gastrointestinal disorders: Neonate/toddler. Gastroenterology, 150, 1443– 55.
- Foster J P, Dahlen H G, Fijan S, Badawi N, Schmied V, Thornton C, Smith C, Psaila K. Probiotics for preventing and treating infant regurgitation: A systematic review and meta-analysis. Matern Child Nutr. 2022;18:e13290. https://doi.org/10.1111/mcn.13290
Publicação: Pebmed
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Vera Ângelo Andrade
Graduação em Medicina pela UFMG em 1989, Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek, Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Mestre e Doutora em Patologia pela UFMG, Sócia proprietária da Clínica Nuvem Medicina BH.